Sapporo, no coração de Hokkaido, está a emergir como um polo de inovação em biotecnologia, medicina regenerativa e inteligência artificial (IA), graças ao Fundo de Inovação de Sapporo. Este fundo, uma parceria público-privada lançada em 2021, está a transformar a região num centro de investigação académica e startups, com um investimento inicial de 760 milhões de ienes (cerca de 5 milhões de euros). Neste artigo, exploramos como esta iniciativa está a posicionar Hokkaido como um laboratório de inovação, desafiando a centralização tradicional do Japão e atraindo talentos e capital global.
O Fundo de Inovação de Sapporo
Criado em 2021, o Fundo de Inovação de Sapporo é o primeiro fundo de capital de risco focado numa única cidade japonesa, marcando um esforço para descentralizar a inovação no Japão. Resultado da colaboração entre a cidade de Sapporo, empresas locais de biotecnologia, a Universidade de Hokkaido e a DG Incubation (uma divisão do grupo Digital Garage de Tóquio), o fundo não se limita a financiar startups. Ele atua como um acelerador, oferecendo suporte em gestão, marketing, formação e recrutamento.
O foco em biotecnologia reflete as forças de Hokkaido: uma rica herança natural, excelência académica e a necessidade de enfrentar desafios como a redução populacional e a escassez de profissionais de saúde. O fundo já atraiu atenção nacional, elevando Sapporo à sétima posição entre as ecossistemas de startups do Japão em 2025, um salto de três lugares em relação ao ano anterior.
- Investimento: 760 milhões de ienes (5 milhões de euros).
- Parcerias: Cidade de Sapporo, Universidade de Hokkaido, DG Incubation.
- Objetivo: Reduzir o fosso entre investigação académica e indústria.
Tomoya Sasaki, diretor da DG Incubation, afirmou: “Queremos criar um ecossistema onde as startups cresçam rapidamente, mas com bases sólidas, prontas para competir globalmente.”
Excelência Académica como Motor
A Universidade de Hokkaido, uma das mais prestigiadas do Japão e vencedora de um Prémio Nobel em química orgânica, é o coração da inovação em Sapporo. Recentemente, os seus laboratórios desenvolveram um hidrogel adesivo resistente em ambientes aquosos, combinando análise de dados e machine learning, com aplicações em cirurgia e terapias regenerativas. Publicado em 2025, este avanço atraiu interesse internacional.
O Universidade Médica de Sapporo também lidera projetos pioneiros, como o protocolo STR01, que usa células estaminais para tratar lesões da medula espinal. Além disso, o instituto de investigação IIZK, em parceria com a farmacêutica Shionogi, desenvolveu o Zocova, o primeiro antiviral japonês contra a COVID-19, demonstrando a capacidade de transformar investigação em produtos viáveis.
- Inovações: Hidrogel adesivo, protocolo STR01, Zocova.
- Impacto: Aplicações em medicina regenerativa e farmacologia.
- Colaboração: Universidades, empresas e governo local.
Startups em Destaque
O Fundo de Inovação de Sapporo já impulsionou várias startups promissoras:
- AWL: Fundada em 2017 na Universidade de Hokkaido, especializa-se em visão computacional com IA, expandindo-se para mercados internacionais.
- Life Create: Desenvolve ferramentas digitais para monitorização da saúde pessoal.
- Goryo Chemical: Única produtora japonesa de corantes fluorescentes para uso biomédico e industrial.
- FirstConnect: Plataforma de consultoria e networking para empresas tecnológicas.
Estas empresas juntas atraíram mais de 100 milhões de dólares em investimentos, um marco significativo para uma região considerada periférica. “A nossa tecnologia de IA, nascida em Hokkaido, é reconhecida globalmente. Isso aumenta a nossa responsabilidade para com a comunidade local”, disse Muneharu Kitade, CEO da AWL.
Um Ecossistema Integrado
O fundo integra-se a uma rede mais ampla, incluindo o Parque de Investigação e Negócios da Universidade de Hokkaido e a Hokkaido Bio Prime Community, que conecta empresas, investigadores e instituições públicas. Esta abordagem reduz o fosso histórico entre investigação académica e mercado, uma fraqueza tradicional do Japão. A estratégia alinha-se com o plano nacional japonês, que investe mais de 300 mil milhões de ienes em biotecnologia para reduzir a dependência de produção estrangeira e revitalizar regiões periféricas.
- Estrutura: Rede de universidades, startups e governo.
- Missão: Transformar investigação em negócios escaláveis.
- Impacto: Combater a despovoação e promover sustentabilidade.
Desafios e Oportunidades
Apesar do sucesso, Hokkaido enfrenta desafios como a escassez de mão-de-obra qualificada e a concorrência com centros como Tóquio e Osaca. O fundo aborda estas questões oferecendo formação e atraindo talentos internacionais. A nível nacional, o Japão enfrenta pressão demográfica e custos crescentes na saúde, o que torna a biotecnologia e a IA cruciais para soluções sustentáveis.
As oportunidades são vastas. A designação de Sapporo como “Cidade Regional de Ecossistema de Startups” pelo governo japonês reforça a sua relevância. O foco em medicina regenerativa, materiais avançados e IA energeticamente eficiente posiciona Hokkaido como um laboratório global, com potencial para exportar inovações.
- Desafios: Escassez de talentos, concorrência com grandes cidades.
- Oportunidades: Reconhecimento nacional, atração de investimento global.
O Futuro de Sapporo
Até 2030, Sapporo aspira a consolidar-se como um dos principais centros de biotecnologia e IA da Ásia. O Fundo de Inovação de Sapporo é mais do que um mecanismo financeiro; é um símbolo de descentralização, mostrando que regiões periféricas podem liderar a inovação. Ao combinar investigação académica, apoio estatal e capital privado, Hokkaido está a transformar desafios demográficos e económicos em oportunidades, atraindo talentos e investimentos globais.