Imagina-te a voar num jet pack roubado de uma base secreta, a pedalar por Los Santos ou a personalizar um carro até parecer uma nave espacial. Grand Theft Auto: San Andreas era assim: uma explosão de liberdade, ideias loucas e um mundo que não se levava muito a sério. Com GTA 6 a caminho, a promessa é de gráficos de cair o queixo e uma narrativa mais profunda, mas há um toque de melancolia no ar. Por mais que o novo jogo prometa revolucionar, há algo em San Andreas que nunca voltará. Vamos mergulhar no que torna este clássico único e porque o futuro, mesmo sendo épico, não o trará de volta.
O Que Tornava San Andreas Tão Especial?
San Andreas era um parque de diversões digital. Tinhas três cidades, campos abertos, tanques, bicicletas, aviões e até um jet pack para roubar numa paródia hilariante da Área 51. Cada missão parecia um convite para a loucura: num momento estavas a assaltar um casino, no outro a seduzir uma crupiê com fato de látex. O jogo não precisava de ser realista – e era isso que o tornava mágico. O visual meio cartoonesco permitia que a jogabilidade fosse livre, sem as amarras de um mundo que tentasse imitar a realidade.
Obbe Vermeij, diretor técnico da série na época, confessou no Twitter que gostaria que GTA IV tivesse sido mais como Saints Row 2 – menos sério, mais caótico, como San Andreas. Ele lamentou que, na busca por gráficos de nova geração, a Rockstar deixou para trás coisas como estatísticas de personagem, missões absurdas e o puro espírito de experimentação. Era um jogo onde o céu – literalmente – não tinha limites, e os jogadores adoravam essa vibe despreocupada que misturava sátira com diversão pura.
O Peso do Realismo: Porque San Andreas Não Sobreviveria Hoje
Quando GTA IV chegou, a série mudou de rumo. Trocou o humor exagerado por uma história sombria sobre Niko Bellic, um veterano preso num ciclo de violência. Os gráficos mais realistas trouxeram um problema: criar mundos detalhados ficou caro – muito caro. Incluir algo como a Área Restringida, com interiores e exteriores só para uma missão de jet pack, hoje exigiria um orçamento astronómico. Cada pedacinho de cenário tem de ser polido até ao último píxel, e isso limita o que os estúdios podem arriscar.
Pensa nisto: num jogo com gráficos realistas, ver a protagonista de GTA 6, Lucia, a voar num jet pack ou a pedalar por Vice City pareceria… estranho. Como explica Christopher Gile num artigo da Game Developer, mundos visuais mais abstratos, como San Andreas, convidam a mecânicas igualmente livres. Mas quando o visual é ultrarrealista, os jogadores esperam um gameplay que siga essa lógica – menos maluquices, mais coerência. É por isso que GTA V equilibra sátira com assaltos cinematográficos, guardando as loucuras para GTA Online ou easter eggs. A busca pelo realismo moldou a série, e voltar atrás seria como tentar fazer um GTA em 2D hoje – simplesmente não cola.
O Preço do Progresso: Menos Jet Packs, Mais Histórias
Não é que GTA 6 vá desapontar – longe disso. Os trailers sugerem um Vice City vibrante, com detalhes que parecem vivos, desde o néon das ruas ao brilho do mar. A narrativa, centrada em Lucia e no seu parceiro, promete emoção e profundidade, algo que GTA V já fez com mestria. Mas a Rockstar aprendeu com o tempo: jogos como Red Dead Redemption 2 mostram que o estúdio domina histórias complexas e mundos imersivos. Só que isso vem com um custo – o de abandonar a liberdade caótica de San Andreas.
A saga Saints Row tentou manter esse espírito exagerado, mas perdeu-se, mostrando que o público atual quer algo mais polido, mesmo que com humor. San Andreas era um produto do seu tempo: orçamentos menores, gráficos mais simples e uma indústria menos obcecada com perfeição visual. Hoje, cada missão tem de justificar meses de trabalho, e isso significa menos espaço para ideias como monster trucks ou missões de assalto a comboios com jet packs. É um pouco triste pensar que a evolução tecnológica, tão impressionante, fecha portas a essa criatividade desenfreada.
O Legado de San Andreas Vive, Mesmo que Não Volte
Enquanto contamos os dias para GTA 6, há um vazio agridoce. San Andreas era como um amigo que aparecia com ideias malucas e te arrastava para aventuras sem fim. GTA 6 será, sem dúvida, um marco – mais real, mais profundo, mais bonito. Mas a sua busca por realismo e narrativa significa que nunca teremos outro jogo com a alma livre de CJ e das suas cidades sem limites. E está tudo bem: o futuro é brilhante, mas às vezes apetece só ligar a PS2, roubar um jet pack e voar sem destino, nem que seja pela nostalgia.