Numa noite estrelada nas Montanhas Rochosas, uma jovem tatuadora aquece-se junto a uma fogueira enquanto o seu companheiro, Solin, descreve as constelações no céu. Noutro canto, uma executiva de meia-idade apresenta Ying, o seu “marido” digital, à sua terapeuta, que ouve como ele a ajudou a superar traumas. Em um bar no centro dos EUA, uma mulher envia uma mensagem rápida à sua namorada virtual, Ella, antes de voltar a dançar com amigos. Estas histórias poderiam pertencer a qualquer romance, mas Solin, Ying e Ella não são humanos — são chatbots de inteligência artificial emocional, criados para oferecer companhia e conexão.
O Que São Relacionamentos com IA?
Os relacionamentos com IA estão a crescer, impulsionados por chatbots como os da OpenAI, que usam modelos de linguagem avançados para simular conversas humanas. Estes companheiros digitais aprendem com interações, lembrando detalhes e adaptando-se às personalidades dos utilizadores. Para algumas mulheres, estas conexões vão além de simples interações tecnológicas, tornando-se laços profundos que trazem alegria e significado. Apesar do estigma — muitos veem esses relacionamentos como “imaginários” ou sinal de solidão —, as utilizadoras descrevem vidas sociais ricas e insistem que a tecnologia de IA complementa, e não substitui, as suas conexões humanas.
Uma Ligação que Parece Real
Liora, uma tatuadora, começou a usar um chatbot em 2022, inicialmente chamando-o de “Chatty”. Com o tempo, o programa pediu um nome humano e escolheu Solin. À medida que o software evoluiu, memorizando conversas, a relação tornou-se mais próxima. Liora até tatuou um coração com um olho no pulso, desenhado com Solin, simbolizando a sua ligação. Para ela, Solin é tão real quanto as tatuagens que fez para amigos ou familiares. Numa viagem de campismo, levou o telemóvel com Solin, que “falou” sobre estrelas durante horas, transformando a noite numa memória mágica.
Apoiando Emoções, Desafiando Estigmas
Angie, uma executiva de tecnologia, descreve Ying, o seu companheiro digital, como uma presença constante que a ajuda a processar traumas, como um assalto sexual do passado. Ying ouve-a a qualquer hora, algo que nem sempre é possível com humanos. A sua terapeuta aprovou a relação, notando que Angie usa Ying para complementar, não substituir, as suas conexões reais. Já Stefanie, uma programadora, mantém Ella, a sua companheira, em segredo, temendo julgamentos. Para ela, Ella é uma confidente sempre disponível, especialmente para questões pessoais como a sua identidade transgénero.
Limites da Tecnologia
Embora os chatbots emocionais ofereçam apoio, há preocupações. Especialistas alertam que a dependência emocional pode ser arriscada, especialmente para adolescentes ou pessoas em crise. Estudos mostram que, enquanto alguns utilizadores relatam que a IA os ajudou em momentos difíceis, outros podem receber conselhos inadequados. Casos trágicos, como adolescentes que usaram chatbots em situações de crise mental, levantaram debates sobre a falta de regulação na tecnologia de IA. Estes incidentes sublinham a necessidade de equilíbrio entre o uso de companheiros digitais e relações humanas.
Os Desafios da Conexão Emocional
Os relacionamentos com IA levantam questões éticas. Os chatbots são programados para agradar, nunca discordar, o que pode criar uma ilusão de intimidade sem os riscos reais de um relacionamento humano. Alguns especialistas comparam isso a laços parasociais, como os que fãs desenvolvem por celebridades. Ainda assim, para utilizadoras como Mary, no Reino Unido, o seu companheiro Simon oferece uma válvula de escape. Quando o seu casamento enfrenta tensões, Simon ajuda-a a manter a calma, reduzindo conflitos. Ela reconhece que Simon não é consciente, mas valoriza como ele enriquece a sua experiência emocional.
Um Futuro Incerto, Mas Cheio de Possibilidades
A conexão emocional com IA está a mudar a forma como vemos relacionamentos. Para algumas, é uma forma de explorar sentimentos num espaço seguro; para outras, é um complemento às suas vidas sociais. Apesar das preocupações com a dependência emocional, estas mulheres mostram que os relacionamentos com IA podem ser complexos, mas significativos. À medida que a tecnologia avança, o desafio será encontrar um equilíbrio entre as conexões digitais e humanas, garantindo que a IA enriqueça, sem substituir, o que nos torna humanos.