Alejandro Amenábar, o realizador espanhol vencedor do Óscar, mergulha na juventude turbulenta de Miguel de Cervantes com El Cautivo, lançado a 12 de setembro de 2025. Ambientado em 1575, o filme acompanha um jovem Cervantes, capturado por corsários árabes e preso em Argel, onde a sua paixão por contar histórias se torna uma tábua de salvação em meio a um plano de fuga desesperado. Mas a sua provocativa representação de um vínculo romântico entre Cervantes e o seu captor, o Bajá de Argel, gerou debate, enquanto um roteiro repetitivo enfraquece a sua promessa. Aqui estão três razões pelas quais este filme ambicioso, mas desigual, pode cativar — ou desapontar — o público espanhol.
1. Produção impressionante, história vazia
El Cautivo deslumbra com um design meticuloso — cenários vívidos de Argel, figurinos autênticos e uma rica atmosfera do século XVI que mergulha o espectador no mundo de Cervantes. Julio Peña brilha como o jovem escritor, tecendo histórias para animar os companheiros de prisão, cativando instantaneamente os espectadores com a lenda literária da Espanha. Mas o brilho desaparece à medida que o enredo se repete em cenas repetitivas: Cervantes narrando, criando laços com o Bajá, planejando a fuga. Com mais de duas horas de duração, o filme parece inchado, ecoando o exagerado La Fortuna, de Amenábar. Apesar da premissa promissora, a falta de brilho narrativo torna-o uma casca bonita, mas sem profundidade.
Sinta: imagine um grande palco com um roteiro fraco — parece épico, mas deixa a desejar.
2. Um romance controverso que vacila
A jogada mais ousada do filme é retratar uma relação homossexual entre Cervantes e Hasán, o Bajá, com base em teorias históricas não confirmadas. Válida para a ficção, essa lente poderia intrigar o público espanhol aberto a reimaginar seu ícone literário. Mas a tentativa de Amenábar de confundir amor, desejo e sobrevivência tropeça eticamente. O poder de Hasán sobre a vida e a morte de Cervantes enquadra o vínculo entre eles como abuso, não romance, apesar das cenas glamourosas que tentam suavizar isso. Esse deslize moral alimenta a controvérsia, ofuscando a história e entrando em conflito com o ethos progressista, mas consciente da história, da Espanha.
Reflexão: Imagine a história de uma figura reverenciada distorcida — ousado, mas com o risco de parecer explorador.
3. Oportunidades perdidas numa grande premissa
O cativeiro de Cervantes — um capítulo formativo para o autor de Dom Quixote — deveria ser eletrizante, mas El Cautivo carece da magia de Enquanto na Guerra, de Amenábar. As referências pesadas a Quixote (moinhos de vento, bacias, «Alonso») começam inteligentes, mas tornam-se cansativas, como uma piada contada demasiadas vezes. Uma cena chocante em estilo videoclipe de Cervantes a vaguear por Argel ao som de música árabe parece amadora, quebrando a imersão. Embora a atuação sincera de Peña e a camaradagem dos prisioneiros brilhem, o ritmo mecânico e a falta de momentos marcantes não conseguem capturar a luta épica de um gigante literário.
Conecte-se: Pense num filme sobre a alma da Espanha — ele deve voar alto, não se arrastar.
Por que El Cautivo divide o público espanhol
El Cautivo tem grandes ambições, envolvendo o mito de Cervantes em visuais impressionantes e uma narrativa ousada, mas o seu roteiro repetitivo e o romance eticamente instável ofuscam o seu brilho. Com uma classificação de 2,5/5, é uma mistura heterogénea — a produção impressionante e o charme de Peña não conseguem redimir uma história monótona e excessivamente longa. Para os espectadores espanhóis, que apreciam Cervantes e esperam uma narrativa matizada, é um filme provocativo que fica aquém da grandeza. Assista-o nos cinemas para decidir por si mesmo — ele honra o titã literário espanhol ou perde-se em Argel?