O universo Cyberpunk é um subgénero da ficção científica, que retrata um mundo onde a tecnologia futurista coexiste com uma sociedade decadente e degradada.
O movimento literário Cyberpunk começou nos anos 80, com a publicação de obras como “Neuromancer” e “Conde Zero” de William Gibson. O termo foi utilizado pela primeira vez numa história de Bruce Bethke, intitulada “Cyberpunk”, publicada em 1983 na revista Amazing Science Fiction Stories.
Em obras como “Blade Runner” e “Matrix”, encontramos paisagens urbanas futuristas, repletas de néons, arranha-céus e megacorporações, entidades gigantescas e despersonalizadas, que muitas vezes assumem o papel de antagonistas, simbolizando a opressão e a desumanização em sociedades dominadas pela tecnologia.
A filosofia Cyberpunk é muitas vezes descrita como “High-Tech, Low-Life”, onde os personagens são seres marginalizados, distanciados e solitários, que vivem à margem da sociedade, geralmente em futuros distópicos onde a vida diária é impactada pela rápida mudança tecnológica. Neste subgénero são explorados temas como a modificação corporal, realidade virtual, desigualdade social, vigilância tecnológica e até mesmo a natureza da existência humana.
A estética Cyberpunk também influenciou a cultura pop em geral, desde filmes a jogos de mesa e videojogos. O movimento literário Cyberpunk, por exemplo, propôs uma reflexão sobre o modo como os autores deste subgénero de ficção científica trataram a estética de uma sociedade em declínio.
As paisagens urbanas de Hong Kong e Tóquio foram influências importantes no ambiente urbano, na atmosfera e nas características de muitos trabalhos Cyberpunk.
As grandes metrópoles asiáticas são frequentemente citadas como influências no género Cyberpunk. A expansão económica de países asiáticos, como o Japão, no final do século XX, fez surgir a expectativa de uma orientalizarão global, o que inevitavelmente influenciou a estética e a temática Cyberpunk.
Recentemente, o subgénero Cyberpunk tem influenciado séries de animação como “Arcane” e “Cyberpunk Edgerunners”, além de jogos como “Cyberpunk 2077” e “Stray”.
Veja as principais cidades que influenciaram a estética Cyberpunk:
Tóquio

Tóquio é frequentemente considerada um pilar na influência do género Cyberpunk, mostrando uma combinação única entre tradição e futurismo. As multidões nas movimentadas ruas, iluminadas por néons cintilantes, arranha-céus imponentes, ecrãs gigantes exibindo publicidades, lojas de eletrónica e máquinas de venda automática fazem de bairros como Akihabara uma verdadeira cena retirada de um filme de ficção científica.
Durante as décadas de 1980 e início dos anos 1990, o Japão atravessou um período de rápido crescimento económico e avanço tecnológico, que despertou preocupação no Ocidente. Durante esses anos milagrosos, muitos acreditavam que o Japão iria ultrapassar os Estados Unidos, tornando-se a maior economia do mundo.
O Ocidente imaginava o Japão como vanguardista do progresso tecnológico, imaginando Tóquio como o modelo de uma futura metrópole global orientalizada, que contribui para o estilo oriental presente nas obras Cyberpunk.
Akira, por exemplo, é um anime lançado em 1988, que se passa em Neo-Tokyo, uma cidade futurista e distópica. A obra tornou-se uma das mais influentes animações da história do cinema e é considerada um marco do género Cyberpunk.
Hong Kong

Hong Kong é frequentemente mencionada como a verdadeira cidade Cyberpunk, composta pela fusão de estilos arquitetónicos, desde arranha-céus cobertos de vidro e metal, até aos mercados de rua e becos apertados, combinados com uma forte presença da tecnologia e uma incrível densidade populacional.
Os painéis de néon em cantonês, os edifícios residenciais apinhados e a sensação omnipresente de um futuro impessoal e dominado pela tecnologia, tornam Hong Kong num lugar único, que realmente parece incorporar o ethos Cyberpunk.
Kowloon Walled City

Kowloon Walled City ou “Cidade Murada de Kowloon”, era uma área densamente povoada, degradada e sem governo, localizada em Kowloon, Hong Kong. Durante a sua existência, que durou aproximadamente entre 1898 a 1993, as autoridades locais não exerciam controlo sobre o local, que resultou num ambiente sem regulação governamental.
Essa ausência de autoridade contribuiu para a formação de uma sociedade autónoma na cidade, onde os residentes viviam em condições precárias, porém independentes das estruturas governamentais convencionais.
A cidade era essencialmente um bairro de lata vertical, onde as pessoas viviam em pequenos apartamentos, muitas vezes sem condições adequadas de higiene.
Os prédios atingiam alturas impressionantes, chegando até 14 andares, o que contribuía para a sua estrutura extremamente compacta, com edifícios amontoados uns sobre os outros, criando uma paisagem urbana caótica.
Apesar das condições precárias, a comunidade desenvolveu a sua própria economia autónoma, mediante pequenos estabelecimentos comerciais, oficinas e restaurantes, incluindo serviços como cabeleireiros, barbearias e até mesmo dentistas, que surgiram para atender às necessidades dos residentes.
Em 1950 a população cresceu para 17.000 pessoas e, no seu auge, abrigava cerca de 50.000 residentes, tornando Kowloon Walled City o local com a maior densidade populacional já registada.
As pessoas mudavam-se para Kowloon Walled City por várias razões, como falência, falta de opções, busca de refúgio durante a guerra civil chinesa, deslocamentos causados por grandes projetos de desenvolvimento urbano, migração em massa de áreas rurais ou simplesmente atraídas pela falta de controlo governamental no local.

Muitos filmes, animes e jogos, encontraram em Hong Kong uma significativa fonte de inspiração. A fusão entre arquitetura, tecnologia e densidade populacional resultou num cenário ideal para o género Cyberpunk. Alguns dos exemplos mais marcantes são os filmes “Blade Runner”, “Ghost in the Shell” e o jogo “Stray”.
Seul

Embora não seja tão associada ao género Cyberpunk quanto Tóquio ou Hong Kong, Seul tem uma aparência extremamente futurista, sendo um cenário perfeito para histórias de ficção científica.
As paisagens urbanas de Seul incorporam uma mistura de elementos tradicionais e futurísticos onde, por um lado, podemos encontrar bairros históricos e locais onde as tradições ainda são valorizadas e preservadas. Por outro lado, a cidade tem uma arquitetura extremamente moderna e futurista, com arranha-céus iluminados por telas digitais e néons brilhantes, elementos visuais que criam uma imersão num mundo tecnológico avançado.
A presença das “megacorporações” tecnológicas em Seul também contribuem para a atmosfera distópica e futurística da cidade, que parece transmitir a sensação de uma realidade controlada pelo poder corporativo.
Por fim, a vida noturna de Seul é repleta de bares, discotecas e restaurantes com temas futuristas e tecnológicos, proporcionando um refúgio para aqueles que buscam escapar da realidade e mergulhar num mundo de estímulos sensoriais intensos.
Chongqing

Chongqing, uma cidade situada no sudoeste da China, pode não ser tão conhecida internacionalmente como outras grandes metrópoles, mas possui uma atmosfera futurista inegável, que nos transporta para um cenário Cyberpunk.
A população da área urbana de Chongqing é a terceira maior da China, ficando atrás apenas de Shanghai e Pequim. O centro da cidade de Chongqing fica no meio de uma estreita península cercada pelos rios Yangtze e Jialing. A maioria dos pontos turísticos da cidade está no centro, incluindo as duas principais áreas pedestres.
Como Chongqing floresceu após a Segunda Guerra Mundial, grande parte da sua arquitetura é nova, mas mantendo alguns aspetos tradicionais. Na verdade, quase todos os seus residentes vivem em prédios construídos após a guerra.
O Metropolitano de Chongqing é um dos maiores sistemas de transporte da China e devido ao terreno íngreme da cidade, duas linhas foram construídas acima do solo, como um mono carril.
A sua linha mais antiga, a linha de metro n.º 2, é especialmente peculiar, visto que uma da suas estações está num prédio residencial. Ao contrário do que as pessoas acreditam, a Estação de Liziba e o prédio residencial foram construídos ao mesmo tempo.

A estação ocupa do sexto ao oitavo andar de um prédio residencial de 19 andares, onde a tecnologia de redução de ruído de última geração permite que os moradores vivam em cima do metro.
Shenzhen

Shenzhen, um centro global de produção e inovação tecnológica, representa a face “high tech” das grandes cidades “Cyberpunk”, sendo um dos principais centros da indústria de hardware do mundo. Shenzen possui paisagens urbanas altamente futuristas, lar de algumas gigantes corporações tecnológicas chinesas.
Shenzhen era inicialmente uma pequena vila de apenas 30.000 habitantes, que passou por uma transformação impressionante. Em 1979, Shenzhen recebeu o status de cidade e em 1980 foi designada como a primeira Zona Económica Especial (ZEE) da China, que atualmente é um dos maiores centro de produção do mundo e a cidade mais rica da China.
Um dos pontos de referência mais marcantes em Shenzhen é o edifício Ping An IFC, o quarto arranha-céu mais alto do mundo e o segundo mais alto da China, com uma plataforma de observação magnífica a 550 metros de altura, que oferece uma vista deslumbrante da cidade. Adicionalmente, ainda abriga o segundo hotel de luxo mais alto do mundo.
Shenzhen foi designada pela UNESCO como Cidade do Design em 2009, distinção que destaca a cidade como um centro de inovação e inspiração, onde o design desempenha um papel fundamental no seu desenvolvimento.